SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.10 número3Sistema de indicadores de sustentabilidade do desenvolvimento do turismo: um estudo de caso do município de Areia - PBA regulamentação da atividade de condução de visitantes nos Sistemas Estaduais de Unidades de Conservação do Brasil índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo

versão On-line ISSN 1982-6125

Rev. Bras. Pesq. Tur. vol.10 no.3 São Paulo Set./Dez. 2016

http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v10i3.957 

Artigo

Fatores que afetam o apoio dos residentes para o desenvolvimento do turismo religioso: o caso de Santa Cruz (RN), Brasil

Gilmara Barros da Silva 1  

Sérgio Marques Junior 2  

1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal, RN, Brasil.

2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal, RN, Brasil.

Resumo

Este estudo versa sobre a gestão do stakeholder primário - a comunidade residente, com o objetivo principal de analisar os fatores que influenciam o apoio dos residentes para o desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, assim como as inter-relações existentes entre esses fatores. Para se atingir tal objetivo, fez-se necessário a utilização da pesquisa descritiva, seguida de uma abordagem quantitativa com aplicação de questionários com 422 residentes da cidade de Santa Cruz-RN. O estudo baseou-se no modelo de relacionamento de variáveis proposto por Nunkoo e Ramkissoon (2012), utilizando-se da técnica de Modelagem de Equações Estruturais - MEE, visando explicar os relacionamentos entre os constructos estudados. Os resultados encontrados sugerem que quanto mais os residentes perceberem os benefícios gerados pelo turismo, assim como confiem em atores governamentais responsáveis pelo desenvolvimento da atividade turística, mais existirá uma propensão ao apoio comunitário para o desenvolvimento do turismo religioso. Conclui-se que o modelo estrutural que melhor representa a realidade de Santa Cruz-RN é composto pelos constructos benefícios e custos do desenvolvimento do turismo no local, assim como a confiança do residente nos atores governamentais responsáveis pelo desenvolvimento do turismo.

Palavras-chave: Gestão de Stakeholders; Apoio do Residente; Turismo Religioso

1 INTRODUÇÃO

O turismo, visto com uma atividade econômica e social que propicia e envolve o contato turista-comunidade residente, pode gerar, nas localidades onde o mesmo se desenvolve, benefícios como geração de emprego e renda, melhorias em infraestrutura básica, turística e de apoio, dentre outros.

De acordo com Organização Mundial do Turismo (OMT, 2012), o turismo é responsável pela geração de 6% a 8% do total de empregos em todo o mundo e, por esse fato, pode ser considerada uma das atividades mais importantes e, por vezes, necessárias para o desenvolvimento e crescimento de alguns países, podendo contribuir para o incremento econômico e o bem-estar social dos residentes nos destinos turísticos.

Entretanto, quando não planejado e/ou gerido de forma inadequada, pode trazer impactos negativos e custos ao destino e à comunidade residente. No caso específico do turismo religioso, como destaca Fagundes (2010, p. 897), torna-se necessário enquadrar a atividade dentro de uma gestão ordenada e sistematizada do espaço turístico, tanto para manter suas características como também para amenizar os impactos sociais e ambientais e controlar os impactos culturais, a fim de preservar o patrimônio histórico desses locais ditos sagrados, respeitar a cultura local e equilibrar e distribuir o seu desenvolvimento econômico.

Nessa perspectiva, alguns estudos, tais como os propostos por Eshliki e Kaboudi (2012), Dyer et al. (2007), Gursoy et al. (2002), Gursoy e Rutherford (2004), Nunkoo e Ramkissoon (2012), dentre outros, apontam que a percepção dos benefícios e dos custos do turismo pela comunidade residente, constitui-se em um fator que pode influenciá-la a apoiar ou não o desenvolvimento do turismo em uma localidade, cabendo aos gestores do turismo trabalhar esse fatore e geri-lo, tendo em vista o apoio comunitário e o desenvolvimento da atividade turística.

O objetivo geral desse artigo foi analisar os fatores capazes de influenciar o apoio dos residentes ao desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Atualmente, a cidade de Santa Cruz vem desenvolvendo o turismo religioso gerado a partir da visitação ao Santuário de Santa Rita de Cássia, conhecida como "Santa das Causas Impossíveis". A referida cidade localiza-se no estado do Rio Grande do Norte, na região da Borborema Potiguar, na zona de planejamento Agreste Potiguar, a 115 quilômetros da capital do Estado - Natal/RN, apresentando uma população de 35.797 habitantes, de acordo com o censo do IBGE 2010 (IBGE, 2013). E diante disso, faz-se necessário o devido planejamento e gestão do turismo e das suas partes envolvidas.

2 GESTÃO DE DESTINOS TURÍSTICOS E GESTÃO DE STAKEHOLDERS

De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001: 38), "o turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras".

É possível perceber que o turismo pressupõe o deslocamento de pessoas de um destino para outro, possuindo as mais variadas motivações, bem como pela prática dos mais variados segmentos de turismo que, por conseguinte, implica na disponibilidade de tempo, renda, dentre outros do turista/visitante. Nesse sentido, o planejamento turístico consiste na orientação de ações e atividades visando atingir um resultado no futuro. Tal planejamento possui abrangência no que se refere ao espaço físico nacional, regional e local (DIAS, 2008).

Entende-se que o planejamento do turismo é necessário para que a atividade possa proporcionar mais benefícios que custos às comunidades residentes e aos demais envolvidos com o turismo. No que se refere ao entendimento de destinos turísticos, segundo Valls (2006: 15), pode-se associar a qualquer unidade territorial que tenha vocação de planejamento e possa dispor de certa capacidade administrativa para desenvolvê-la. Isso significa dizer que o destino turístico se constitui em um espaço geográfico onde se tem potencial e subsídios à gestão e implantação da atividade turística.

Sob esta mesma perspectiva, a gestão de destinos turísticos busca solucionar e/ou evitar problemas em um destino. Para tanto, deve trabalhar as dimensões econômicas, culturais, sociais, políticas e ambientais, considerando as informações e especificidades de cada uma delas, de modo a se alcançar a solução dos problemas e tornar o destino turístico sustentável (VIGNATI, 2008).

Quanto à definição de Stakeholders, para Freeman (1984: 46), Stakeholder pode ser definido como "qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pelos objetivos de uma empresa". Entende-se, então, que stakeholder pode ser um funcionário de uma empresa, consumidor, fornecedor, governo ou comunidade residente que possa, de alguma forma, influenciar ou ser influenciado no processo de desenvolvimento de uma empresa, organização ou outros. Referindo-se à classificação dos stakeholders, os mesmos podem ser classificados, de um modo geral, em primários e secundários, sendo os primários - os indivíduos que podem afetar diretamente no desempenho de uma empresa, tais como: investidores, fornecedores, clientes, comunidade residente e outros. Já os secundários são grupos que não possuem contato direto com as organizações, mas dependendo do momento podem também exercer influência sobre essa (TEIXEIRA; DOMENICO, 2008).

Considerando-se a comunidade residente como stakeholder primário, que pode exercer influência na maneira como o turismo deve ou não se desenvolver em um destino, faz-se necessário inseri-la no desenvolvimento do processo turístico e considerar sua percepção quanto aos impactos (positivos e negativos) e os benefícios e custos do turismo, para que esse obtenha sucesso. Esta mesma perspectiva deve ser atribuída ao Turismo Religioso.

3 TURISMO RELIGIOSO: Conceitos e definições

O turismo, como atividade abrangente, segmenta-se em Agroturismo, Turismo de Aventura, Ecoturismo, Turismo Ecológico, Turismo Rural, Turismo de Megaeventos, Turismo de Negócios e Turismo Religioso, dentre outros (BENI, 1998). Assim, cada segmento possui atividades especificas, utilizando recursos adequados à sua prática, bem como se desenvolve em lugares que comportam ou têm potencialidade para a execução de suas atividades.

No que se refere ao turismo religioso, de acordo com o Ministério do Turismo do Brasil (MTUR, 2010: 19), "o Turismo Religioso configura-se pelas atividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas, independentemente da origem étnica ou do credo".

É possível perceber que o turismo religioso se constitui a partir do deslocamento de pessoas movidas pela fé a destinos ou lugares considerados "santos" ou com uma forte presença de manifestações religiosas. Ainda, nesse sentido, segundo Beni (1998: 474), o turismo religioso,

Refere-se ao grande deslocamento de peregrinos, portanto turistas potenciais, que se destinam a centros religiosos, motivados pela fé em distintas crenças. Este tipo de demanda tem características únicas levando, por isso, alguns autores a não considerá-lo nos estudos do Turismo. Segundo o autor, esses peregrinos assumem um comportamento de consumo turístico, pois utilizam equipamentos e serviços com uma estrutura de gastos semelhante à dos turistas reais.

Como visto, os peregrinos podem se tornar turistas potenciais, pois a viagem em busca do encontro com o espiritual não exclui a utilização de equipamentos e infraestruturas turísticas como hotéis, pousadas, restaurantes, dentre outros, assim como em outros segmentos de turismo que fazem uso para o desenvolvimento de suas atividades. Nessa perspectiva, segundo Oliveira (2004: 52),

O turismo religioso não é de religiosos, nem de religião. É um turismo motivado pela religiosidade, pela cultura religiosa. Portanto, onde quer que essa cultura se manifeste - seja na área rural, natural ou urbana, seja no cotidiano ou em momentos festivos - poderá existir um turismo religioso (com ou sem profissionalismo).

Isso demonstra que mesmo um tipo de turismo que envolve a religiosidade, e que por esse motivo as pessoas se deslocam de um lugar para outro, também implicará na utilização de bens e serviços no destino, não se restringindo aos especificamente religiosos.

Santos (2011) elucida que a prática do turismo religioso envolve a execução e a prática de atividades como peregrinações, romarias, visitação a locais considerados "santos" (santuários, templos, igrejas, etc.), participação em festas de padroeiros, retiros espirituais, eventos, seminários e outros que enfatizam a religiosidade e a cultura presentes nos destinos turísticos. Endente-se, então, que as pessoas que viajam a destinos onde se desenvolve o turismo religioso buscam o contato espiritual com o divino, seja para agradecer por alguma graça alcançada, pagar alguma promessa, depositar ex-votos nos espaços reservados a esses, ou apenas, para visitar e conhecer a cultura e religiosidade local. Ainda, nesse sentido, segundo Arnt (2006: 21),

A modalidade turístico-religiosa pode ocorrer de forma individual ou organizada, em programas como romarias, peregrinação e penitência, de acordo com os objetos religiosos, dogmáticos e morais de fiéis visitantes. A romaria ocorre quando o indivíduo, por disposição própria e sem esperar recompensas materiais ou espirituais, visita lugares sagrados. Já a peregrinação se dá através da visita a lugares sagrados para cumprir promessas ou pedidos anteriores feitos a divindades ou a espíritos bem aventurados. É considerado um ato de penitência quando o fiel se desloca a locais sagrados, com a intenção de redimir-se de seus pecados e culpas, de forma livre ou por meio de conselhos religiosos.

De modo geral, o turismo religioso pode ser vinculado às peregrinações, pois se tem o movimento de pessoas motivadas pela prática religiosa ou conhecimento vinculado à cultura e religião. O turista religioso não deixa de ser um peregrino. Apenas inclui a utilização de outras infraestruturas, serviços e equipamentos à sua viagem religiosa (OLIVEIRA, 2004). Isso significa dizer que o turista religioso, movido pela fé, também pode experimentar momentos de lazer e entretenimento sem necessariamente esses serem voltados à religiosidade.

Como atividades praticadas pelo turista religioso tem-se, além dos roteiros que possuem cunho religioso, a visitação a santuários nos mais variados destinos no mundo. Oliveira (2004: 49) conceitua santuário como um "lugar privilegiado de busca do sagrado como dimensão espiritual, mística e sobrenatural da existência. Portanto, os santuários não são, necessariamente, o sagrado, mas tão somente mais uma localidade privilegiada para experimentar essa sacralidade". Em suma, os santuários atraem os peregrinos/turistas religiosos, seja para um encontro espiritual com a santidade ou para visitar e conhecer o patrimônio cultural (material e/ou imaterial) presente no destino escolhido para visitação.

Com a rápida intensificação do turismo, geraram-se preocupações relacionadas à capacidade de carga dos Santuários, assim como com o crescimento de obras que causaram alterações da paisagem natural e dentre outros. Diante da situação, os órgãos competentes começaram a realizar um controle ambiental para que os recursos naturais fossem resguardados (FAGUNDES, 2010).

4 FATORES QUE AFETAM O APOIO DE RESIDENTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

Vários estudos versam sobre atitude, participação, apoio e outros relacionados à percepção da comunidade quanto aos impactos (positivos e negativos) e os benefícios e custos que podem ser acarretados com o desenvolvimento do turismo. Dentre esses estudos, Vargas-Sánchez et al. (2011) propuseram um modelo universal para explicar a atitude dos residentes com relação ao desenvolvimento do turismo na província espanhola de Huelva. No estudo, foram consideradas as variáveis: comportamento dos turistas, densidade dos turistas e nível de desenvolvimento turístico percebido pelo residente, variáveis essas que são raramente trabalhadas nos modelos da mesma natureza.

Constatou-se, no estudo, que a percepção da superação dos impactos positivos sobre os impactos negativos é um indicador poderoso para a atitude favorável dos residentes ao desenvolvimento do turismo. Também foi constatado que existe uma relação positiva da percepção do comportamento respeitoso do turista pelo residente, tendo em vista a atitude voltada para o desenvolvimento do turismo. Já a densidade de turistas apresentou influência negativa sobre tal atitude dos residentes. Constatou-se também que o nível de desenvolvimento do turismo percebido pelos residentes tem influência negativa sobre a atitude desses, uma vez que os residentes consideram o desenvolvimento moderado do turismo como benéfico, mas quando tal desenvolvimento aumenta, essa percepção pode se tornar negativa.

Duarte (2007) enfatizou fatores que afetam a participação da comunidade no desenvolvimento do turismo em Maria da Fé - Minas Gerais, onde se constatou que a identidade local, a visão do turismo, o papel do estado e a visão da contribuição do SEBRAE/Minas afetaram o apoio e a participação dos residentes no desenvolvimento do turismo na localidade. A participação e o apoio, neste caso, dependiam da percepção que os residentes tinham sobre o turismo, os atores responsáveis pelo mesmo e a iniciativa local, ou seja, instituições públicas e privadas que promovessem e/ou incentivassem a participação da comunidade no processo turístico.

No que compete ao apoio comunitário, Gursoy et al. (2002) propuseram um modelo de relação causal para analisar o apoio comunitário ao desenvolvimento do turismo. O estudo foi desenvolvido em cinco municípios circunvizinhos a uma área de lazer na Virginia, Estados Unidos da América. Os resultados mostraram que fatores como nível de interesse dos residentes, atitude ecocêntrica, utilização de recursos de base local, benefícios e custos percebidos pelos residentes com o desenvolvimento do turismo são capazes de afetar o apoio comunitário ao desenvolvimento da atividade.

Posteriormente, Gursoy e Rutherford (2004) acrescentaram outros fatores ao estudo de Gursoy et al. (2002), provenientes dos benefícios e custos percebidos pelo desenvolvimento do turismo. Este estudo baseou-se na Teoria das Trocas Sociais e objetivou analisar os impactos percebidos e os fatores que podem influenciar as percepções das pessoas, sendo desenvolvido em 14 comunidades de dois estados dos Estados Unidos da América. Obteve-se como resultado que o apoio comunitário ao desenvolvimento do turismo é afetado direta e/ou indiretamente por nove fatores: o nível de interesse dos residentes, atitudes ecocêntricas, utilização de recursos de base comunitária, apego comunitário, estado da economia local, benefícios econômicos, benefícios sociais, custos sociais e os benefícios culturais (GURSOY; RUTHERFORD, 2004).

Entende-se, então, que as comunidades que percebem mais benefícios que custos trazidos pelo turismo ao meio ambiente, a vida social, a cultura local, a economia local e ao poder de decisão político de cada cidadão sob seu entorno habitual, tendem a apoiar o desenvolvimento do turismo em uma determinada destinação.

Nicholas et al. (2009) analisaram fatores que influenciam o apoio comunitário para o desenvolvimento do turismo sustentável na Área de Gestão de Pítons como Patrimônio Mundial, localizada perto de Soufreere, uma pequena cidade da costa sudoeste da Ilha de Santa Lúcia, no Caribe. Vale destacar que, naquela localidade, encontram-se vulcões, e que a mesma é a atração turística mais visitada da Ilha de Santa Lúcia. O estudo obteve como resultado que o apego comunitário influencia o apoio ao desenvolvimento do turismo de forma sustentável e as atitudes ambientais da comunidade residente. O estudo ainda faz um alerta quanto à falta do envolvimento da comunidade no processo turístico e o que isso pode ocasionar quanto à sua sustentabilidade em um destino (NICHOLAS et al., 2009).

De certa forma, quando a comunidade observa mudanças e melhorias positivas para o destino que reside, decorrentes da execução da atividade turística, tais como, conservação dos recursos naturais, criação de projetos e programas de sensibilização ambiental para turistas e residentes, dentre outros, a mesma tende a apoiar o desenvolvimento do turismo sustentável, bem como tende, a mudar sua atitude quanto aos recursos naturais, por exemplo, uma vez que esses são esgotáveis e tanto a comunidade residente quanto o turismo necessitam dos recursos naturais para o desenvolvimento de suas atividades.

Nunkoo et al. (2012) propuseram um estudo sobre a confiança pública nas instituições de turismo em Maurítius. Os resultados mostram que o desempenho econômico e político das instituições de turismo, o poder dos residentes no turismo e a confiança interpessoal determinam a confiança nas instituições de turismo, onde tal confiança possui relação significativa com o apoio político dos residentes ao turismo.

Na perspectiva da Teoria das Trocas Sociais, Nunkoo e Ramkissoon (2012) testaram um modelo de relacionamento de variáveis que incluiu o estudo da confiança dos residentes, diferentemente de outros estudos que não consideravam o efeito desta variável. Tal modelo foi testado com moradores da Ilha de Maurítius, situada no Oceano Índico Ocidental. Os autores ressaltaram que a referida Ilha movimentava sua economia através da execução de atividades tradicionais: a agricultura e a produção têxtil. Porém, o turismo vem se desenvolvendo na Ilha e tem desempenhado um importante papel na economia local.

O modelo resultante propõe que o apoio dos residentes ao desenvolvimento do turismo é influenciado pela percepção dos benefícios e custos do turismo como confirmado em estudos anteriores (Nunkoo e Ramkissoon, 2011; Gursoy et al. 2002; Gursoy e Rutherford 2004, dentre outros), e sua confiança nos atores governamentais (Nunkoo et al. 2012, dentre outros). O modelo também considera o poder de influência da comunidade residente no desenvolvimento do turismo. Os autores finalizaram seu estudo enaltecendo a importância e necessidade do desenvolvimento de pesquisas envolvendo a relação de confiança e poder de influência dos residentes no turismo, para que se confirme a relação entre esses.

Em estudo posterior, Nunkoo e Smith (2013) desenvolveram um modelo de análise da confiança dos residentes nos atores governamentais e de apoio político ao turismo. Esse estudo foi desenvolvido com residentes de Niágara, Ontário, Canadá. Observou-se que a percepção dos residentes sobre os benefícios e custos do turismo e sua confiança nos atores governamentais determinaram o apoio dos residentes ao desenvolvimento da atividade. Vale mencionar que a percepção dos residentes sobre o desempenho político e econômico dos atores governamentais influenciaram na confiança desses.

Desse modo, o presente estudo propõe-se verificar como o modelo de relações causais proposto por Nunkoo e Ramkissoon (2012) se comporta na realidade do desenvolvimento do turismo religioso na cidade de Santa Cruz-RN. Entende-se que é importante identificar os fatores de apoio comunitário para um melhor planejamento e gestão eficaz do turismo e de suas partes interessadas, promovendo a inclusão dos stakeholders no processo turístico, principalmente a comunidade residente, pois é essa que recebe os turistas, que compartilha com eles sua infraestrutura que, por vezes sofre os maiores impactos negativos, dentre outros. A metodologia utilizada nesse estudo, tendo em vista alcançar os objetivos propostos, é apresentada a seguir.

5 METODOLOGIA

O estudo possuiu um caráter descritivo, seguido de uma abordagem quantitativa. A pesquisa descritiva, segundo Martins Jr. (2008:83) "visa descobrir e observar fenômenos existentes, situações presentes e eventos, procurando descrevê-los, classificá-los, compará-los, interpretá-los e avaliá-los, com o objetivo de aclarar situações para idealizar futuros planos e decisões".

Quanto ao instrumento de coleta de dados, foi utilizado o questionário, que para Vergara (2009:39)

É um método de coletar dados no campo, de interagir com o campo composto por uma série ordenada de questões a respeito de variáveis e situações que o pesquisador deseja investigar. Tais questões são apresentadas a um respondente, por escrito, para que ele responda também dessa forma, independentemente de ser a apresentação e a resposta em papel ou em um computador.

O estudo delimitou-se à cidade de Santa Cruz, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, situada a 115 quilômetros de Natal, capital do Estado, com uma população estimada de 35.797 habitantes. Apresenta área de unidade territorial de 624,36 Km2, uma densidade demográfica (hab./km²) de 57,3. Em 2010 apresentou Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) igual a 0,635 (IBGE, 2013). Esta localidade vem buscando desenvolver o turismo religioso a partir da visitação do Santuário de Santa Rita de Cássia, tendo como principal atrativo, o Santuário de Santa Rita de Cássia, que compreende a estátua de Santa Rita de Cássia, com 56 metros de altura total, capela, sala de promessas, praça de romeiros, auditório, restaurante, lanchonete, lojinhas, banheiros, mirante e estacionamento.

Considerando a população de Santa Cruz-RN, para realização do estudo, foi necessário o uso de uma amostra de 380 entrevistados a serem envolvidos na pesquisa. O instrumento de coleta de dados foi dividido em cinco constructos:

O primeiro constructo (fator) refere-se à percepção do entrevistado sobre os benefícios gerados na região através do desenvolvimento do turismo. O segundo, à percepção com relação aos custos gerados pelo desenvolvimento do turismo. O terceiro refere-se à percepção do entrevistado quanto o poder de influência dos residentes e do empresariado no desenvolvimento do turismo. O quarto, a confiança nos atores governamentais tendo em vista o desenvolvimento do turismo e o quinto, o apoio político do entrevistado ao desenvolvimento do turismo. O questionário foi desenvolvido baseando-se na escala tipo Likert de cinco níveis (Intervalo de 1- Nenhum Benefício até 5 - Muitos Benefícios). A referida escala não é comparativa. A mesma propicia aos entrevistados uma maior liberdade em termos de expressão de sua opinião, ao avaliar um produto ou serviço (MALHOTRA, 2006).

O instrumento de coleta de dados foi aplicado com a comunidade residente de Santa Cruz-RN, mais especificamente, com 422 pessoas (quantidade superior à amostra estabelecida neste estudo), nos meses de abril a julho do ano de 2013. As pessoas que poderiam ser selecionadas para participar da pesquisa eram aquelas que residiam na cidade, sendo o mesmo aplicado com todas as faixas etárias partindo dos maiores de 18 anos.

O modelo teórico de relacionamento utilizado nesse estudo baseou-se no modelo proposto por Nunkoo e Ramkissoon (2012) constituído de variáveis manifestas e variáveis latentes. Segundo Marôco (2010:9)

As variáveis manifestas, ou variáveis observadas, são variáveis medidas, manipuladas ou observadas diretamente .... As variáveis latentes, Fatores ou Constructos, são variáveis não diretamente observáveis ou mensuráveis, sendo a sua existência indicada pela sua manifestação em variáveis indicadoras ou manifestas ....

Nesse sentido, constituem-se em variáveis latentes do modelo proposto para o estudo em questão os constructos Benefícios Percebidos do Turismo, Custos Percebidos do Turismo, Poder de Influência, Confiança em Atores Governamentais e Apoio Político ao Turismo. As variáveis manifestas são aquelas empregadas no questionário. A descrição das variáveis e constructos utilizados neste estudo são apresentados no Quadro 01. Vale destacar que tais variaveis foram adaptadas do estudo realizado por Nunkoo e Ramkissoon (2012).

Quadro 01 Descrição das Variáveis e Constructos utilizados no estudo 

Variável Descrição da variável Constructo
BENEF1 Geração de emprego para a população santa-cruzense em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso. Benefícios
BENEF2 Aumento na renda da população santa-cruzense em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF3 Aumento na preservação ambiental de Santa Cruz/RN em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF4 Aumento na qualidade de vida da população santa-cruzense, em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF5 Melhoria na infraestrutura da cidade de Santa Cruz/RN, em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF6 Aumento na quantidade de negócios em Santa Cruz/RN, em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF7 Aumento nas opções de entretenimento para a população santa-cruzense, em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF8 Aumento no desenvolvimento de atividades culturais em Santa Cruz-RN em decorrência do desenvolvimento do turismo religioso.
BENEF9 Avaliação geral dos benefícios que podem ser gerados pelo turismo religioso em Santa Cruz/RN.
CUSTO1 Aumento nos preços de bens e serviços em Santa Cruz/RN devido o turismo religioso. Custos
CUSTO2 Aumento na poluição em Santa Cruz-RN, devido o turismo religioso.
CUSTO3 Aumento no preço de imóveis em Santa Cruz-RN, devido o turismo religioso.
CUSTO4 Aumento nos problemas de trânsito em Santa Cruz/RN devido o turismo religioso.
CUSTO5 Aumento na prostituição em Santa Cruz-RN, devido o turismo religioso.
CUSTO6 Aumento na criminalidade em Santa Cruz-RN, devido o turismo religioso.
CUSTO7 Aumento no vandalismo em Santa Cruz-RN, devido o turismo religioso.
CUSTO8 Avaliação geral dos problemas que podem ser gerados pelo turismo religioso em Santa Cruz/RN.
PODER1 Avaliação do poder de influência da comunidade santa-cruzense para o desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz/RN. Poder de Influência
PODER2 Avaliação do poder de influência dos empresários do turismo para o desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz/RN.
CONFIA1 Confiança da comunidade residente na Prefeitura Municipal de Santa Cruz/RN para o desenvolvimento do turismo religioso. Confiança em atores governamentais
CONFIA2 Confiança da comunidade residente na Secretaria de Turismo do Estado para o desenvolvimento do turismo religioso
CONFIA3 Confiança da comunidade residente no Governo Federal para o desenvolvimento do turismo religioso.
CONFIA4 Confiança geral da comunidade residente nas autoridades governamentais para o desenvolvimento do turismo religioso.
APOIO1 Concordância de que o turismo é a indústria mais importante para Santa Cruz/RN Apoio político ao desenvolvimento do turismo
APOIO2 Concordância de que o turismo ajuda no crescimento econômico da cidade na direção correta.
APOIO3 Concordância de que o turismo possui um importante papel no desenvolvimento econômico local.
APOIO4 Concordância de que tem orgulho que os turistas venham visitar Santa Cruz-RN.

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

*Variaveis adaptadas do estudo de Nunkoo e Ramkissoon (2012).

Para a análise dos dados coletados foi utilizado o pacote estatístico Analysis of Moment Structures - AMOS (v. 18) para a Análise de Equações Estruturais (AEE), que segundo Marôco (2010:17) "estabelece as relações entre as variáveis, quer manifestas, quer latentes, sob estudo".

Segundo o autor, a análise de equações estruturais pode ser descrita como uma combinação das técnicas clássicas de Análise Fatorial - que define um modelo de medida que operacionaliza variáveis latentes ou constructos - e de Regressão Linear - que estabelece, no modelo estrutural, a relação entre as diferentes variáveis sob estudo.

5.1 Análise do Modelo Estrutural Obtido

A Análise de Equações Estruturais (AEE) divide-se nos submodelos de Medida e o Estrutural, no qual, o submodelo Estrutural, segundo Hair et al. (2009:469), "representa as inter-relações de variáveis entre relações de dependência". A análise do modelo estrutural permite a visualização das relações entre as variáveis e constructos de modo a permitir ao pesquisador identificar quais relações são mais representativas para o modelo em estudo.

Para Marôco (2010), tendo em vista o ajustamento do modelo estrutural, faz-se necessária a utilização de índices de qualidade do ajustamento. Tais índices são divididos em 5 grandes famílias. Para efeito do presente estudo, foram utilizados somente os índices relativos, de parcimônia, de discrepância populacional e os absolutos:

- Índices Relativos: Avaliam a qualidade do modelo, testando-o do pior ajustamento possível ao melhor ajustamento possível. Os 3 índices utilizados desta família para melhor ajustamento foram: TLI - Índice de Tucker-Lewis index, CFI - Índice de Ajuste Comparativo e o NFI - Índice de Ajuste Normal. O ajustamento é perfeito para TLI, CFI e NFI quando os valores são iguais ou próximos a 1.

- Índices de Parcimónia: Segundo Marôco (2010:46) "são obtidos pela correção dos índices relativos com um fator de penalização associado à complexidade do modelo". Os índices utilizados desta família foram o PCFI e PGFI- Parcimônia. Os mesmos, quando apresentam valores no intervalo 0,6;0,8, indicam um ajustamento razoável. Valores superiores a 0,8 pode-se considerar um bom ajustamento.

- Índices de Discrepância Populacional: "Comparam o ajustamento do modelo obtido com os momentos amostrais (médias e variâncias amostrais) relativamente ao ajustamento do modelo que se obteria com os momentos populacionais (médias e variâncias populacionais)" (MARÔCO, 2010:46). O índice utilizado nesta família foi o RMSEA - Raiz do erro quadrático médio de aproximação. Este índice apresenta ajustamento bom no intervalo entre 0,05 e 0,08 e ajustamento muito bom, quando o RMSEA é inferior a 0,05.

- Índices Absolutos: Avaliam a qualidade do modelo por si só, sem comparar com outros modelos. Os índices utilizados nesta família foram o X²/gl e o GFI - Índice da Bondade do Ajustamento. O índice X²/gl é considerado de bom ajustamento quando seu resultado é inferior a 2 e aceitável sendo inferior a 5. Já o GFI, quando apresenta valores entre 0,9 e 0,95, indica bom ajustamento. Quando apresenta valores superiores a 0,95, pode-se considerar um ajustamento muito bom (MARÔCO, 2010).

Neste sentido, foi realizado o cálculo dos índices de ajustamento do modelo cujos resultados são apresentados na Tabela 01.

Tabela 01 Índices de Qualidade de Ajustamento do Modelo  

Índices Grupo do Índice Resultados Valores de Referência (Marôco, 2010)
TLI CFI NFI Índices Relativos 0,974 0,980 0,947 Próximo a 1 Ajustamento Muito Bom 0,90 - 0,95 Ajustamento Bom > 0.90 Ajustamento Bom
PCFI PGFI Índice de Parcimônia 0,754 0,638 0,6 - 0,8 Ajustamento Razoável
RMSEA Índice de discrepância populacional 0,037 < 0.05 Ajustamento Muito Bom
X2/GL GFI Índices Absolutos 1,576 0,967 1 - 2 Ajustamento Bom > 0,95 Ajustamento Muito Bom

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

Observa-se, a partir da Tabela 01, que os índices de qualidade de ajustamento do modelo proposto encontram-se entre um bom ajustamento a um ajustamento muito bom, com exceção dos índices de parcimônia PCFI e PGFI que apresentaram um ajustamento razoável.

Na Figura 01 é apresentado o modelo estrutural obtido com os coeficientes de trilha, apresentados em sua forma padronizada:

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

Figura 01 Modelo Estrutural obtido no estudo 

Os valores que se encontram entre parênteses representam a probabilidade de erro ao se considerar uma relação causal entre as respectivas variáveis latentes. Os asteriscos entre parênteses indicam que a relação entre as variáveis é altamente significativa. Já os números entre as variáveis latentes e as manifestas constituem-se nas cargas fatoriais das respectivas variáveis manifestas no constructo.

5.1.1 Validação do Modelo

Para a validação dos constructos obtidos do modelo estrutural, foi considerado o procedimento utilizado por Tacconi (2012), onde foram empregados os indicadores de confiabilidade composta do constructo e variância extraída. Segundo Hair et al. (2009), a confiabilidade composta é uma medida da consistência interna dos indicadores das variáveis latentes com o grau em que eles representam o construto observado. Já a variância extraída reflete a quantia geral de variância nos indicadores explicada pela variável latente (constructo). De acordo com os autores, valores maiores de variância extraída acontecem quando os indicadores são verdadeiramente representativos do constructo latente. É uma medida complementar ao valor da confiabilidade do constructo.

O procedimento de cálculo desses indicadores segue a seguinte formulação matemática:

Confiabilidade do Constructo= Cargas Padronizadas2( Cargas Padronizadas )2 + Erro de Mensuração dos Indicadores 1

Variância Extraída = (Standard Loads 2) (Cargas Padronizadas2) + Erro de Mensuração dos Indicadores2

O erro de mensuração dos indicadores é calculado a partir da seguinte relação matemática:

Erro = 1 - (Carga Padronizada) 2 3

Como parâmetros de avaliação serão utilizados, segundo Tacconi (2012), o nível recomendado por Hair et al. (2009) e Marôco (2010), que definem que a estimativa para a confiabilidade dos construtos deve apresentar valores de referência iguais ou superiores a 0,70 e para a variância extraída, o limite recomendável deve ser um valor igual ou superior a 0,50.

Os resultados da Confiabilidade Composta do Constructo e da Variância Extraída do modelo são apresentados na Tabela 02. A partir das estimativas observadas na referida tabela, verifica-se que os Constructos BENEFÍCIOS, CUSTO e CONFIANÇA apresentaram boa consistência interna, utilizando, como critérios de avaliação, aqueles recomendados por Hair et al. (2009). Nestes constructos, os valores estimados foram superiores aos valores utilizados como referência, sendo que, no caso do constructo CUSTOS, a variância extraída, considerando-se a aproximação para o inteiro mais próximo, atinge o valor estabelecido como critério.

Tabela 02 Estimativa dos valores de Confiabilidade Composta e Variância Extraída dos Constructos 

Constructo Variáveis (Rel. Lineares) Estimativa Não Padronizada Erro Padrão C.R. Estimativa Padronizada p-valor Confiabilidade e Variância Extraída
BENEFÍCIOS BENEF1 ← BENEFÍCIOS 1,095 0,090 12,220 0,713 *** Confiabilidade: 0,785 Variância Extraída: 0,549
BENEF4 ← BENEFÍCIOS 1,227 0,096 12,794 0,778 ***
BENEF9 ← BENEFÍCIOS 1,000 - - 0,730 -
CUSTO CUSTO5 ← CUSTO 1,000 - - 0,544 - Confiabilidade: 0,719 Variância Extraída: 0,466
CUSTO6 ← CUSTO 1,033 0,121 8,548 0,737 ***
CUSTO7 ← CUSTO 1,373 0,159 8,619 0,748 ***
CONFIANÇA CONFIA1 ← CONFIANÇA 1,042 0,062 16,803 0,778 *** Confiabilidade: 0,826 Variância Extraída: 0,547
CONFIA2 ← CONFIANÇA 0,721 0,054 13,344 0,637 ***
CONFIA3 ← CONFIANÇA 0,836 0,059 14,264 0,643 ***
CONFIA4 ← CONFIANÇA 1,000 - - 0,874 -
APOIO APOIO1 ← APOIO 1,000 - - 0,587 - Confiabilidade: 0,670 Variância Extraída: 0,404
APOIO2 ← APOIO 0,904 0,101 8,908 0,648 ***
APOIO3 ← APOIO 0,951 0,107 8,853 0,670 ***

*** - Altamente significativo

Fonte: Dados da Pesquisa (2013)

Entretanto, utilizando como base esses parâmetros de avaliação, não se verificou boa consistência interna no constructo APOIO já que o valor da confiabilidade composta foi de 0,670, inferior ao definido como padrão de 0,70, e, principalmente, no valor estimado da variância extraída do constructo, 0,404, também inferior ao critério de avaliação estabelecido. Esse fato pode ser explicado pelo baixo valor apresentado da carga fatorial das variáveis manifestas que compõe o constructo. A seguir serão discutidos os resultados obtidos nesse estudo.

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados encontrados nesse estudo evidenciam que o valor obtido do coeficiente de determinação do modelo (R²) igual a 0,49, podendo ser considerado adequado para estudos em Ciências Sociais Aplicadas. Significa dizer que as variáveis latentes e manifestas empregadas no modelo estrutural conseguem expressar, de forma satisfatória, quais fatores são capazes de influenciar o apoio dos residentes ao desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz-RN.

No que se refere às relações causais entre as variáveis latentes, observa-se que o constructo Benefícios Percebidos do Turismo apresentou relação altamente significativa com os constructos Confiança em Atores Governamentais e Apoio Político ao Turismo. O constructo Confiança nos Atores Governamentais apresentou relação com a percepção dos custos do turismo, o que sugere que tal percepção pode, embora de forma incipiente, influenciar na confiança dos residentes nos gestores do turismo, por exemplo.

Observou-se, ainda que o constructo Custos Percebidos do Turismo não constitui relação significativa com o Constructo-chave dessa pesquisa, ou seja, não se relaciona com o constructo Apoio Político ao Turismo. Em outras palavras, a percepção dos custos do turismo, pelo residente não interfere em seu julgamento de apoio ou não ao desenvolvimento da atividade no município.

Desse modo, pode-se dizer que o apoio dos residentes da amostra em estudo é influenciado pela percepção dos benefícios do turismo e pela confiança dos mesmos nos atores governamentais, o que significa dizer que, quanto mais à população residente perceber benefícios advindos do turismo, bem como quanto mais confiarem nos gestores e governantes da atividade turística, mais estarão propensos a apoiar o desenvolvimento de projetos turísticos na cidade. Esse fato é corroborado nos estudos de Nunkoo e Ramkissoon (2011), Nunkoo e Ramkissoon (2012), Nunkoo e Smith (2013), dentre outros que enaltecem a relação significativa existente entre a percepção dos benefícios e confiança em atores governamentais, tendo em vista o apoio comunitário ao desenvolvimento do turismo ou de projetos turísticos.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo principal analisar os fatores que influenciam o apoio dos residentes ao desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz-RN, Brasil. Para tanto, foram utilizados métodos quantitativos, bem como a constituição de um modelo estrutural que melhor representa o apoio dos residentes locais ao desenvolvimento do turismo religioso.

A construção do referencial teórico propiciou melhor compreensão de alguns estudos que propuseram a aplicação de modelos de relacionamentos de variáveis, tais como Nunkoo et al. (2012), Nunkoo e Ramkissoon (2011), Ko e Stewart (2002), Jurowski e Gursoy (2004) dentre outros, que contribuíram para a discussão sobre os fatores, bem como para um melhor entendimento na análise do modelo proposto por esse estudo.

Os resultados obtidos sugerem que o apoio dos residentes ao desenvolvimento do turismo religioso em Santa Cruz-RN é influenciado de forma muito significativa pela percepção dos benefícios do turismo e pela confiança dos residentes nos atores governamentais. O mesmo resultado foi encontrado no estudo de Nunkoo e Ramkissoon (2012). Ainda, foram obtidas relações causais significativas entre as variáveis latentes Benefícios Percebidos do Turismo e Confiança em Atores Governamentais, e entre essas e Apoio Político ao Turismo. Já a variável Custos Percebidos do Turismo não constitui relação significativa com a variável latente endógena desse estudo, Apoio Político ao Turismo.

Desta forma, para efeito desse estudo, o modelo estrutural que melhor representa a realidade de Santa Cruz-RN, com o desenvolvimento do turismo religioso, pode ser composto pelas seguintes variáveis latentes e manifesta: Benefícios Percebidos do Turismo (Geração de emprego e renda, aumento na qualidade de vida e avaliação geral dos benefícios do turismo), Confiança em Atores Governamentais (Prefeitura Municipal, Secretaria de Turismo do Estado, Governo Federal e Avaliação geral da confiança) e Apoio Político ao Turismo (Concordância - O Turismo é a indústria mais importante para Santa Cruz, O Turismo ajuda o crescimento econômico na direção correta e O Turismo possuiu um importante papel no desenvolvimento econômico local).

A partir da análise estrutural do modelo, obteve-se um valor de R², de 0,49, o que significa dizer que, para a população estudada, o modelo apresentou uma relação estrutural aceitável, ao mesmo tempo em que apresentou índices de qualidade de ajustamento entre bom e muito bom. Apenas nos índices de parcimônia PCFI e PGFI, obtiveram um ajustamento razoável.

Com a realização dessa pesquisa, foi possível investigar como os fatores propostos no modelo de relacionamento de variáveis de Nunkoo e Ramkissoon (2012) se comportaram no turismo religioso, na cidade de Santa Cruz-RN, Brasil, tendo como intuito a inclusão da comunidade residente no processo de desenvolvimento turístico local.

REFERENCES

Arnt, Lionara. (2006). Peregrinação x turismo religioso: um estudo de caso no Santuário de Azambuja - Brusque, SC. 126 p. Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria) Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI. [ Links ]

Brasil, Ministério do Turismo. (2010). Turismo cultural: orientações básicas. 3 ed. Ministério do Turismo, Brasília. Available: < Available: http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Turismo_Cultural_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf >. Acessed November 15, 2012. [ Links ]

Beni, Mário Carlos. (1998). Análise estrutural do turismo. São Paulo: Atlas, [ Links ]

Dias, Reinaldo. (2008). Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas , [ Links ]

Duarte, Gabriela do Couto e Silva Dias . (2007). Fatores que afetam a participação da comunidade no desenvolvimento do turismo do turismo em Maria da Fé - Minas Gerais. Belo Horizonte - MG, 104 p. Dissertação (Mestrado em Turismo e Meio Ambiente) Centro Universitário UNA. [ Links ]

Fagundes, João Edson. (2010). Turismo religioso e sustentabilidade. In: Philippi Jr., Arlindo; Ruschmann, Doris Van de Meene. Gestão ambiental e sustentabilidade no turismo. Barueri, SP: Manole, [ Links ]

Freeman, R. E. (1984). Strategic Management: a stakeholder approach. Boston, Pitman, MA. [ Links ]

Gursoy, Dogan; Jurowski, Claudia; Uysal, Muzaffer. (2002). Resident attitudes: A Structural Modeling Approach. Annals of Tourism Research. 29(1): 79-105. [ Links ]

Gursoy, Dogan; Rutherford, Denney G. (2004). Host attitudes toward tourism: an improved structural model. Annals of Tourism Research , 31(3): 495-516. [ Links ]

Hair, Joseph et al. (2009). Análise multivariada de dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman [ Links ]

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. (2013). Santa Cruz-RN. Available: <Available: http://www.cidades.ibge.gov.br >. Acessed January 19, 2013. [ Links ]

Malhotra, N. (2006). Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Tradução Laura Bocco. 4. ed. Porto Alegre: Bookman , [ Links ]

Martins, Jr. , Joaquim. (2008). Como escrever trabalhos de conclusão de curso: instruções para planejar e montar, desenvolver, concluir, redigir e apresentar trabalhos monográficos e artigos. 2. ed. Petrópolis, RJ : Vozes, [ Links ]

Marôco, João. (2010). Análise de Equações Estruturais: fundamentos teóricos, software e Aplicações. PSE Produtos e Serviços Estatísticos, Ltda. [ Links ]

Nicholas, Lorraine Nadia; Trapa, Brijish; Ko, Yong Jae. (2009). Residents perspectives of a world heritage site: The Pitons Management Area, St. Lucia. Annals of Tourism Research , 36 (3):390-412. [ Links ]

Nunkoo, Robin; Ramkissoon, Haywantee. (2012). Power, trust, social exchange and community support. Annals of Tourism Research , 39(2):997-1023. [ Links ]

Nunkoo, Robin; Ramkissoon, Haywantee; Gursoy, Dogan. (2012).Public trust in tourism institutions. Annals of Tourism Research , 39(3):1538-1564. [ Links ]

Nunkoo, Robin; Smith, Stephen L. J. (2013). Political economy of tourism: Trust in government actors, political support, and their determinants. Tourism Management, 36:120-132. [ Links ]

Oliveira, Christian Dennys Monteiro de. (2004). Turismo religioso. São Paulo: Aleph, [ Links ]

Organização Mundial do Turismo. (2001). Sancho, Amparo (2001) (Org.). Introdução ao turismo. São Paulo: Roca, [ Links ]

Organização Mundial do Turismo. (2012). Available: < Available: http://statistics.unwto.org/en/content/international-recommendations-tourism-statistics-2008-irts-2008 > Acessed October 18, 2012. [ Links ]

Santos, José Fernando Oliveira. (2011). Os impactos do turismo religioso: o caso da Semana Santa em Braga. 152 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Empresariais). Universidade Fernando Pessoa. [ Links ]

Tacconi, Marli de Fátima Ferraz da Silva, (2012). A confiança interorganizacional nas compras. 202 f. Tese (Doutorado em Administração) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. [ Links ]

Teixeira, Maria Luiza Mendes; Domenico, Silvia Márcia Russi de. (2008). Fator humano: uma visão baseada em stakeholders. In: Gestão do fator humano: visão baseada em stakeholders. Hanashiro, Darcy Mitiko Mori; Teireira, Maria Luiza Mendes; Zaccarelli, Laura Menegon (Org.), 2 ed. São Paulo: Saraiva, [ Links ]

Valls, Josep-Francesc. (2006). Gestão integral de destinos turísticos sustentáveis. FGV, Rio de Janeiro. [ Links ]

Vargas-Sanchez, Alfonso; Porras-Bueno, Nuria; Plaza-Mejía, María de lós Ángeles. (2011). "Explaining residents' attitudes to tourism is a universal model possible?" Annals of Tourism Research . 38(2):460-480. [ Links ]

Vergara, Sylvia Constant. (2009). Métodos de coleta de dados no campo. São Paulo: Atlas , [ Links ]

Vignati, Federico. (2008). Gestão de destinos turísticos: como atrair pessoas para pólos, cidades e países. Rio de Janeiro: SENAC. [ Links ]

Recebido: 30 de Junho de 2015; Aceito: 15 de Junho de 2016

E - mail: gilmarabarross@gmail.com

E-mail: sergiomarquesjunior@gmail.com

Gilmara Barros da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Mestre e Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Sérgio Marques Junior Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN - Doutor em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP. Mestre em Agronomia pela Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Engenheiro Agrônomo pela mesma universidade

Creative Commons License This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License