1 INTRODUÇÃO
Tanto o ambiente natural quanto o artificial têm uma linguagem própria: o primeiro se manifesta por si mesmo e o segundo é resultado da expressão dos homens. Assim, cada lugar é diferente, cada cidade tem um caráter distinto das demais e a linguagem de uma cidade são suas formas. A semiótica do ambiente urbano ensina que a cidade deve ser lida num contexto de exploração. A percepção é estimulada pelas diferenças da arquitetura, das cores, do desenho das ruas; pela presença de monumentos históricos, estátuas, parques, praças e pessoas com outros hábitos e cultura e, também, de elementos naturais como a flora e a fauna, que sobrevivem às alterações, adaptam-se e se misturam aos elementos artificiais construídos pelos seres humanos.
O turismo vive das singularidades do lugar. Os elementos cotidianos de uma localidade podem ser extremamente atrativos para visitantes que não participam de seu dia-adia. Muitos turistas viajam em busca de algo novo e diferente ou, até mesmo, exótico. Dessa forma, o conceito de atrativo turístico varia de turista para turista, já que está relacionado às motivações de viagem e à avaliação que os visitantes fazem desses atrativos.
Campo Grande está situada no bioma Cerrado, segundo maior da América do Sul, território em que se encontra a bacia hidrográfica do Rio da Prata, o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade. O Cerrado é considerado um hotspot mundial de biodiversidade por apresentar extrema ocorrência de espécies endêmicas ao mesmo tempo em que sofre elevada perda de habitats. Somente a avifauna desse bioma compreende cerca de 837 espécies (MMA, 2011).
A capital do Mato Grosso do Sul é um ponto de parada para turistas que têm como destino o Pantanal sul-mato-grossense e a cidade de Bonito, polos de ecoturismo de referência internacional. Muitas vezes, essas pessoas têm um tempo ocioso na cidade, que pode ser aproveitado se houver maior oferta de atrativos. Campo Grande também conta com diversas áreas verdes com infraestrutura adequada para receber visitantes ou turistas (Jafar, Oliveira, Bononi & Mascaró, 2012) e tem o privilégio de ter grandes araras voando e se reproduzindo em ambiente urbano (Guedes, 2012).
A observação de aves é uma atividade que, se desenvolvida de forma adequada, pode gerar benefícios significativos para a cidade ou região, além de ser importante instrumento de sensibilização da população local para as questões ambientais. Atualmente, os observadores de aves, também chamados de birders ou birdwatchers, tornaram-se o maior grupo de observadores de vida silvestre do planeta e o que mais cresce nesse setor. Somente na Inglaterra, estima-se que haja mais de um milhão de observadores de aves, mercado organizadamente controlado por agências baseadas em Londres, especializadas em oferecer produtos para esse público (Mourão, 2004).
Assim, o objetivo principal desse estudo foi avaliar o potencial turístico da avifauna encontrada em três áreas verdes da cidade de Campo Grande, abertas ao público, caracterizadas como um parque, uma praça e uma lagoa, para propor um possível roteiro de observação de aves. Especificamente, objetivou-se apresentar as áreas escolhidas em relação a elementos gerais de infraestrutura; determinar pontos que possam ser utilizados por visitantes e turistas para a atividade de observação de aves e realizar o levantamento da quantidade de espécies da avifauna e a frequência com que puderam ser observadas no período da pesquisa.
2 MARCO TEÓRICO
Quando uma localidade opta por desenvolver o turismo como atividade econômica, está tanto se propondo a capitalizar divisas quanto somando responsabilidades em relação à conservação do ambiente e da manutenção da qualidade de vida de sua população (Beni, 1999). Como alternativa de lazer ou de tempo livre, o turismo deixa de ser apenas uma ‘atividade’ para ser um ‘espaço’ qualitativamente diferente e superior, que pode proporcionar novas informações aos sistemas social e cultural e promover novas atitudes em relação ao ambiente onde se desenvolve (Beni, 2003).
Estruturalmente, o turismo pode ser visto como um sistema composto por conjuntos que se inter-relacionam: conjunto das relações ambientais (social, cultural, econômico e ecológico); conjunto da organização estrutural (superestrutura: política oficial de turismo e sua ordenação jurídico-administrativa; e infraestrutura: geral e específica - planta turística básica: alojamento, alimentação e entretenimento); e conjunto das ações operacionais (oferta, demanda, mercado, produção, distribuição e consumo). O planejamento do turismo, que inclui tanto a atividade quanto os empreendimentos, deve estar direcionado à sua autossustentabilidade, satisfazendo necessidades econômicas, sociais e estéticas e mantendo, ao mesmo tempo, a integridade cultural e ambiental dos espaços que ocupa (Beni, 2003).
O planejamento dá coerência e convergência às atividades em prol do crescimento do turismo. Além disso, deve transformar recursos naturais ou artificiais em recursos turísticos, ordenando o território e melhorando infraestrutura, equipamentos, serviços, promoções e preservação do ambiente físico - natural e urbano. Esse processo não acontece a curto prazo, mas é necessário que seja iniciado para que se possa desfrutar de uma posição mercadológica melhor em relação à concorrência e obter uma melhoria nas condições de vida no núcleo receptor. O planejamento dos espaços turísticos permite melhor qualidade de vida à população local e certamente propicia uma imagem favorável ao turista (Rose, 2002).
Os centros turísticos estrategicamente planejados e integrados no desenvolvimento regional caracterizam-se por produtos finais competitivos, ajustados à demanda dos mercados nacionais e internacionais. Porém, antes de atingir esse nível, precisam adequar-se às exigências da demanda do mercado interno que, na verdade, é o eixo que impulsiona o crescimento do turismo, bem como o fator de comparação de seletividade e qualidade dos produtos ofertados. O planejamento do turismo significa inter-relacionar fatores de oferta (atrativos e atividades turísticas, alojamentos e outros equipamentos e serviços) e de demanda (mercados que utilizam o atrativo, equipamentos e serviços turísticos) (Beni, 1999).
Os atrativos turísticos podem ser agrupados como aqueles que são construídos pelo homem e os que são proporcionados pela natureza. Os primeiros incluem, principalmente, os produtos da história e da cultura e também complexos de entretenimento criados artificialmente. Os outros são elementos naturais como a paisagem, o clima e a vegetação (Cooper, Fletcher, Fyall, Gilbert & Wanhill, 2001).
Planejado em dimensões menores para preservar os ambientes frágeis, no ecoturismo as atividades de observação estão dentro de roteiros criados especialmente para atrair turistas interessados em observar e interpretar a natureza. Na interpretação, há uma revelação de significados e relações que configuram o objetivo da experiência e, tanto para o visitante local quanto para o turista que vem de fora, os significados revelados e as relações estabelecidas entre as espécies, o ser humano e o ecossistema apresentado são conhecimentos que lhe enriquecem a visita. Os conhecimentos adquiridos agregam valor imensurável à experiência. A interpretação é uma comunicação que revela o significado do objeto visitado, o que pode causar mudanças de atitudes positivas, contribuindo para o fortalecimento do elo entre o turista e o local visitado (Pereira & Nelson, 2004).
Apesar de o Brasil ostentar o título de país megadiverso, abrigando mais de 20% das espécies do planeta (MMA, 2013), essa enorme biodiversidade é um atrativo pouco explorado. A maioria dos brasileiros, incluindo as operadoras de ecoturismo, conhece muito pouco sobre as mais de cem mil espécies da fauna brasileira e, por essa razão, não sabe identificá-la e valorizá-la. Desde o início da história da humanidade, a observação de animais é uma importante atividade, seja para obtenção de alimento, ou pelo simples prazer de contemplar a natureza (Mourão, 2004).
A observação de aves é uma atividade datada anteriormente ao século XIV. Na Inglaterra era praticada por aristocratas em suas propriedades. Nos Estados Unidos, na década de 1940, os hotéis às margens do Lago Okeechobee, na Flórida, ficavam lotados de turistas: eles viajavam em excursões organizadas, conduzidas por guarda-parques e guias experientes, para observar espécies raras, especialmente patos, que estavam sendo dizimadas pela caça (Mourão, 2004).
A atividade de observação resume-se em ‘colecionar avistagens de aves’ e acontece com maior sucesso quando os grupos de observadores são pequenos - entre 6 e 12 pessoas - com conhecimento e comportamento adequados à atividade e a condução é feita por guias especializados (Mourão, 2004). A avistagem é realizada, de preferência, até cinco horas após o amanhecer, sem tempo determinado para percorrer uma trilha, pois cada observador identifica, aprecia uma espécie, fotografa ou até grava sua vocalização (Farias, 2007).
A observação direta desses animais requer locais bem conservados, além de habilidades e equipamentos específicos (Mourão, 2004), como também roteiros de observação planejados, levando em consideração a demanda de ecoturistas e os cuidados para o mínimo de interferência no local visitado. Dessa forma, um roteiro turístico de observação de aves pode tornar-se uma ferramenta de conservação e educação ambiental (Athiê, 2007).
Na elaboração de um roteiro de observação de aves, antes de tudo e principalmente da divulgação de uma nova atração turística, é necessário que seja feito um levantamento qualitativo na área de interesse para que se obtenham dados referentes às espécies que vivem nesse local, como por exemplo, a riqueza, a listagem e a frequência de ocorrência de cada espécie da comunidade, para que se possa determinar a importância dessa área em termos de biodiversidade no processo de atração turística (Athiê, 2007).
Também é fundamental que haja meios para que essas informações cheguem ao público, como guias de observação com a lista das aves encontradas no local em questão com fotos e informações referentes ao seu comportamento, biologia reprodutiva, alimentação; tudo isso para que o turista consiga identificá-las durante o percurso do roteiro. A par disso, é importante também a capacitação de monitores/guias para que possam orientar a observação, tornando-os veículo de transferência dessas informações. Também são necessárias trilhas interpretativas ou mesmo visitas autoguiadas quando não houver a possibilidade de que um guia ou monitor esteja presente em todos os horários de visitação. Essas informações devem ter o propósito de conscientizar os visitantes sobre a importância desses animais para o ecossistema em questão e o motivo pelo qual eles devem ser preservados, estimulando maior interesse sobre a atividade de observação e interpretação do ambiente (Athiê, 2007).
3 METODOLOGIA
O município de Campo Grande ocupa uma área de 8.096 km2 e tem 786.797 habitantes. Está localizado na região central do Estado de Mato Grosso do Sul (20°26’34” S e 54°38’47” O), em altitude entre 500 e 675 metros. Apresenta 183.000 hectares de cobertura vegetal remanescentes e, deste total, 61% estão em parques, praças ou unidades de conservação protegidas por lei (Campo Grande, 2007).
As áreas verdes selecionadas para este estudo estão em região urbana e são locais abertos ao público, encontrando-se a uma distância menor de 5 km da Praça Ary Coelho, considerada um ponto central da cidade, e de até 3 km entre elas. Em seu entorno, existem vias de acesso a diferentes regiões da cidade, trânsito de veículos e pedestres, além de residências e estabelecimentos comerciais (Figura 1).
Para o levantamento qualitativo da avifauna, foram realizadas vinte saídas a campo, no ano de 2013, em intervalos irregulares de tempo, totalizando 55 horas de observação. Os horários variaram das 5hs às 8hs e das 15hs às 18hs. Utilizou-se o método de observação direta, por meio de paradas de dez minutos para observação em determinados pontos ligados por transectos de linha (caminhadas) (Cullen Jr., Rudran & Valladares-Pádua, 2004).
As espécies foram registradas e mapeadas com auxílio de binóculo (Bushnell Powerview 10x42 FOV 300FT), câmera fotográfica (Nikon Coolpix P510) e GPS (Garmin 12 XL). As aves foram agrupadas por famílias e a nomenclatura obedeceu ao Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2011). Para conhecer a regularidade com que cada espécie foi observada em cada área, calculou-se a frequência de ocorrência (FO), em que se divide o número de dias em que a espécie foi registrada pelo número total de dias de observação e se multiplica por 100 para chegar ao resultado em porcentagem (%).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Estrutura das áreas
Parque das Nações Indígenas - Foi projetado para oferecer à população e aos visitantes atividades de lazer contemplativo. O nome é em homenagem às tribos indígenas do Mato Grosso do Sul: Guarani, Kaiowá, Ñandeva, Guató, Kadiwéu, Terena e OfaiéXavante. Cada um dos sete portais de entrada recebe o nome de uma delas. Está localizado na extremidade leste da principal avenida da cidade e é totalmente cercado. Possui vias de circulação interna (principais, secundárias, setoriais, ciclovia, via incursionista e trilhas), estacionamento, pontos de ônibus e setorização das atividades/equipamentos (Fernandes, Nessimian & Delvizio, 1993). Oferece espaços para eventos culturais (palco ao ar livre, concha acústica, museu de arte contemporânea e museu de cultura indígena) e esportivos (quadras de basquete e vôlei de praia). Faz divisa com o Parque Estadual do Prosa, é atravessado pelos córregos Prosa e Revellieu e abriga uma represa e um lago artificial (Figura 2).
Praça Lúdio Martins Coelho Filho - Anteriormente era chamada de ‘Praça Itanhangá’ por estar localizada no bairro de mesmo nome. Apesar de ainda ser chamada assim, seu nome atual foi dado em homenagem ao filho de Lúdio Martins Coelho, pecuarista e prefeito de Campo Grande por dois mandatos. Está situada em fundo de vale do Córrego Vendas, que atravessa sua extensão. Abriga uma nascente e oferece pista para caminhada, academia ao ar livre, quadra de esportes e um parquinho infantil (Figura 3).
Lagoa Itatiaia - Localiza-se no bairro Jardim Itatiaia, região leste do município. Ao final da década de 1990, o entorno da lagoa sofria com o despejo de lixo e restos de materiais de construção, além de grande quantidade de matéria orgânica em decomposição flutuando e depositada no fundo da lagoa. Em agosto de 2002, o entulho foi removido e a lagoa e a área de entorno passaram por um processo de revitalização e reurbanização (Camillo, Anjos-Aquino & Albuquerque, 2006), obras que se encerraram em dezembro de 2003. Atualmente, essa área conta com uma academia ao ar livre e a calçada é utilizada para a prática de caminhadas (Figura 4).
4.2 Pontos de observação
Ao todo, foram determinados 33 pontos de observação, sendo 11 pontos em cada área (parque: pontos A1 a A11; praça: pontos B1 a B11; e lagoa: pontos C1 a C11). No parque, os pontos determinados seguiram a formação riparia dos córregos, aproveitando a estrutura das vias de acesso primária e secundárias. Na praça, os pontos foram marcados sobre as trilhas para caminhada. Na área C, os pontos de observação foram determinados sobre a calçada que circunda a lagoa e próximos à vegetação aquática (Figura 5).
4.3 Riqueza de espécies
Foram registradas 37 famílias e 107 espécies de aves, que somam 12% das espécies encontradas no bioma Cerrado (837 espécies) (Figura 6). O Parque das Nações Indígenas apresentou o maior número de espécies: 91, seguido da Lagoa Itatiaia com 46 espécies e pela Praça Lúdio Martins Coelho Filho que apresentou 39 espécies (Tabela 1).
Espécies | Parque | Praça | Lagoa |
---|---|---|---|
FO | FO | FO | |
Crax fasciolata (Spix, 1825) | 50 | 0 | 0 |
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) | 20 | 0 | 100 |
Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) | 20 | 0 | 20 |
Butorides striata (Linnaeus, 1758) | 10 | 0 | 60 |
Ardea alba (Linnaeus, 1758) | 0 | 0 | 60 |
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) | 0 | 0 | 20 |
Egretta thula (Molina, 1782) | 10 | 0 | 0 |
Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789) | 20 | 0 | 0 |
Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) | 20 | 0 | 0 |
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) | 10 | 20 | 0 |
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) | 10 | 0 | 0 |
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) | 10 | 0 | 0 |
Caracara plancus (Miller, 1777) | 20 | 40 | 0 |
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) | 40 | 0 | 0 |
Falco sparverius (Linnaeus, 1758) | 10 | 0 | 0 |
Falco rufigularis (Daudin, 1800) | 10 | 0 | 0 |
Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) | 0 | 0 | 100 |
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) | 30 | 60 | 0 |
Gallinula galeata (Lichtenstein,1818) | 0 | 0 | 80 |
Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) | 0 | 0 | 40 |
Vanellus chilensis (Molina, 1782) | 90 | 0 | 100 |
Tringa solitaria (Wilson, 1813) | 30 | 0 | 0 |
Jacana jacana (Linnaeus, 1766) | 0 | 0 | 100 |
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) | 70 | 0 | 20 |
Columbina squammata (Lesson, 1831) | 30 | 0 | 0 |
Columbina picui (Temminck, 1813) | 10 | 0 | 40 |
Columba livia (Gmelin, 1789) | 60 | 60 | 0 |
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) | 100 | 100 | 100 |
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) | 20 | 80 | 40 |
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) | 10 | 0 | 0 |
Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855) | 20 | 20 | 0 |
Ara ararauna (Linnaeus, 1758) | 100 | 100 | 100 |
Ara chloropterus (Gray, 1859) | 0 | 0 | 20 |
Orthopsittaca manilata (Boddaert, 1783) | 10 | 0 | 0 |
Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) | 50 | 20 | 20 |
Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776) | 20 | 20 | 0 |
Aratinga aurea (Gmelin, 1788) | 40 | 0 | 20 |
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) | 30 | 0 | 0 |
Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818) | 90 | 60 | 80 |
Alipiopsitta xanthops (Spix, 1824) | 10 | 0 | 40 |
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) | 30 | 0 | 0 |
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) | 20 | 0 | 0 |
Crotophaga ani (Linnaeus, 1758) | 40 | 0 | 80 |
Guira guira (Gmelin, 1788) | 50 | 0 | 0 |
Athene cunicularia (Molina, 1782) | 40 | 0 | 80 |
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) | 20 | 80 | 20 |
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) | 0 | 40 | 0 |
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) | 10 | 60 | 0 |
Thalurania furcata (Gmelin, 1788) | 20 | 0 | 0 |
Hylocharis chrysura (Shaw, 1812) | 10 | 60 | 0 |
Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) | 0 | 20 | 0 |
Heliomaster furcifer (Shaw, 1812) | 0 | 0 | 20 |
Trogon curucui (Linnaeus, 1766) | 50 | 0 | 0 |
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) | 20 | 20 | 20 |
Chloroceryle amazona (Latham, 1790) | 30 | 20 | 80 |
Galbula ruficauda (Cuvier, 1816) | 20 | 0 | 0 |
Ramphastos toco (Statius Muller, 1776) | 30 | 60 | 20 |
Pteroglossus castanotis (Gould, 1834) | 10 | 0 | 0 |
Picumnus albosquamatus (d'Orbigny, 1840) | 40 | 60 | 0 |
Melanerpes candidus (Otto, 1796) | 30 | 0 | 0 |
Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766) | 20 | 0 | 0 |
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) | 20 | 0 | 40 |
Herpsilochmus longirostris (Pelzeln, 1868) | 40 | 80 | 0 |
Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) | 80 | 20 | 0 |
Thamnophilus aethiops (Sclater, 1858) | 10 | 0 | 0 |
Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, 1818) | 70 | 0 | 20 |
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) | 90 | 40 | 60 |
Hylocryptus rectirostris (Wied, 1831) | 40 | 0 | 0 |
Schoeniophylax phryganophilus (Vieillot, 1817) | 0 | 0 | 20 |
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) | 0 | 0 | 40 |
Synallaxis frontalis (Pelzeln, 1859) | 40 | 0 | 0 |
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) | 70 | 60 | 0 |
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) | 30 | 0 | 0 |
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776) | 20 | 20 | 0 |
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) | 90 | 80 | 80 |
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) | 20 | 0 | 20 |
Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776) | 20 | 20 | 0 |
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) | 40 | 60 | 0 |
Tyrannus albogularis (Burmeister, 1856) | 10 | 0 | 0 |
Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819) | 60 | 60 | 20 |
Tyrannus savana (Vieillot, 1808) | 10 | 0 | 0 |
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) | 0 | 20 | 0 |
Pyrocephalus rubinus (Boddaert, 1783) | 50 | 0 | 0 |
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) | 20 | 0 | 0 |
Progne tapera (Vieillot, 1817) | 30 | 0 | 40 |
Campylorhynchus turdinus (Wied, 1831) | 30 | 0 | 0 |
Turdus rufiventris (Vieillot, 1818) | 90 | 80 | 60 |
Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) | 20 | 20 | 0 |
Turdus amaurochalinus (Cabanis, 1850) | 20 | 20 | 0 |
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) | 0 | 0 | 20 |
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) | 90 | 100 | 0 |
Lanio cucullatus (Statius Muller, 1776) | 10 | 0 | 0 |
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) | 50 | 60 | 20 |
Tangara palmarum (Wied, 1823) | 10 | 40 | 20 |
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) | 10 | 20 | 0 |
Paroaria coronata (Miller, 1776) | 20 | 0 | 0 |
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) | 10 | 0 | 0 |
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) | 50 | 20 | 80 |
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) | 10 | 0 | 0 |
Sporophila collaris (Boddaert, 1783) | 0 | 0 | 20 |
Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) | 20 | 0 | 40 |
Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819) | 20 | 0 | 0 |
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) | 70 | 0 | 0 |
Molothrus rufoaxillaris (Cassin, 1866) | 30 | 0 | 0 |
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) | 10 | 0 | 20 |
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) | 60 | 60 | 20 |
Passer domesticus (Linnaeus, 1758) | 0 | 0 | 20 |
Fonte: autora
Nenhuma espécie endêmica ou ameaçada foi registrada, mas houve o registro de espécies exclusivas em cada uma das áreas: 39 no parque, 03 na praça e 13 na lagoa. No parque, registrou-se um maçarico-solitário (Tringa solitária), visitante boreal que se reproduz na América do Norte. Considerado escasso, no Brasil ocorre entre os meses de setembro e abril (Gwynne, Ridgely, Tudor & Argel, 2010).
4.4 Frequência de ocorrência
As espécies com frequência absoluta de ocorrência foram Patagioenas picazuro (pombão) e Ara ararauna (arara-canindé). A chegada das araras em Campo Grande é acompanhada desde 1999, depois de um acentuado período de estiagem somado a desmatamentos e queimadas. Isso provocou a escassez de alimentos e fez com que elas saíssem de zonas rurais e viessem para a cidade. A conservação das veredas dos buritis, de outras palmeiras e de árvores frutíferas nativas do Cerrado, é fundamental para que as araras e outras espécies permaneçam no ambiente urbano. Considerando isso, áreas urbanas estão evoluindo no que diz respeito à qualidade de vida e bem-estar. É o caso de Campo Grande, considerada a capital das araras pela presença de um grande número de araras-canindés (Ara ararauna) araras-vermelhas (Ara chloropterus) (Guedes, 2012). Entretanto, além da frequência de avistamento, é necessário atribuir valor ou nível de atratividade turística a elementos naturais, assim como desenvolver novos produtos com potencial turístico.
4.5 Potencial turístico
O número total de espécies registrado aliado ao avistamento frequente de aves grandes, coloridas e com vocalização distinta, como as araras, tucano (Ramphastos toco) e curicaca (Theristicus caudatus), por exemplo, pode ser um fator importante para atrair eco-turistas interessados em observar aves. Em estudo feito no município de Ilha Comprida, São Paulo, o item mais citado (57,1%) com potencial para exploração turística foi o de ‘Observação de pássaros’ (Hoppen, Schirigatti & Silva, 2013). Porém, para determinar o potencial turístico de um produto, outros critérios precisam ser avaliados como a qualidade da paisagem e a acessibilidade, por exemplo.
Com o intuito futuro de ampliar a oferta turística em áreas com recursos naturais com potencial, duas cidades da Patagônia Austral criaram, em conjunto e de maneira coordenada, reservas naturais urbanas. Lugares foram comparados e selecionados como os que reuniam as melhores condições para a observação de aves. Foram construídos faróis, um mirante para observação de condores e um centro de interpretação ambiental. Para destacar o produto, uma cidade escolheu o condor-andino como ave atrativo-chave e, a outra, as aves costeiras migratórias (Albrieu, Ferrari & Navarro, 2013).
Em Ubatuba, SP, o turismo de observação de aves se constitui como uma oferta complementar ao turismo de sol e praia e tem se mostrado uma atividade turística altamente positiva para o município. Para fortalecer essa característica, em 2004 foi aprovada lei que instituiu como símbolo do município o pássaro Tangará-dançador (Lodopleura pipra), e em 2006 foi criado o Festival de Observação de Aves. Promovido pelo poder público e com edições anuais, o evento oferece palestras, cursos, concursos fotográficos e visitas programadas a locais de interesse ornitológico (Dias, 2011).
Também em São Paulo, na cidade de Piracicaba, um estudo que utilizou o método de revisão bibliográfica de outras pesquisas sobre a avifauna dessa localidade compilou 247 espécies que determinaram o potencial para iniciar o oferecimento do birdwatching em seis pontos do município. De acordo com a aptidão de Piracicaba (oferta) foram sugeridas três modalidades de realização da prática: 1) observação para ‘elaboração de listas’, 2) registros fotográficos e 3) observação para iniciantes (Alexandrino, Queiroz & Massarutto, 2012).
Por outro lado, também é necessário conhecer a demanda para propor um roteiro urbano de observação de aves. Inapropriadamente, muitos profissionais descrevem ‘observadores de aves’ como um grupo homogêneo de pessoas dedicadas e, muitas vezes, obstinadas que investem muito de seu tempo e dinheiro para aumentar sua ‘coleção de avistagens’. Estudos já identificaram diferentes graus de especialização entre observadores: os casuais; os realmente interessados, porém, eventuais e amadores; os que realizam observações constantes objetivando maior conhecimento e os profissionais. Esses grupos ainda podem diferenciar entre si no que diz respeito às suas preferências de consumo e características demográficas (Scott & Thigpen, 2003). Observadores profissionais, extremamente envolvidos, interessam-se por espécies raras, endêmicas e rastros de aves, por exemplo, enquanto que observadores de ocasião aliam a observação de aves com outras atividades de turismo (Kim, Keuning, Robertson & Kleindorfer, 2010).
5 CONCLUSÃO
Apesar do número de espécies de aves encontrado nas áreas de estudo ser significativo (107 espécies, 12% das espécies de aves do Cerrado), o potencial turístico da dessa avifauna precisa ser fortalecido com outras ações. Construir infraestrutura própria para as atividades de observação, como mirantes, bases de apoio ao observador de aves, centro de interpretação e educação ambiental, por exemplo, contribui para a apresentação de um produto turístico diferenciado e completo.
Além disso, deve-se observar se oferta e demanda se complementam, se a infraestrutura básica é suficiente para atender à população local e aos visitantes; se existe infraestrutura específica adequada, além de se verificar se o produto oferecido atende às necessidades e desejos dos diferentes perfis de turistas.
No que tange as modalidades da prática de observação de aves, estas devem ser organizadas e apresentadas de acordo com as limitações do que pode ser oferecido e com o grau de envolvimento e especialização dos ‘birwatchers’.
A participação do poder público é imprescindível para a promoção do produto ‘roteiro urbano de observação de aves’ e para a manutenção de reservas naturais urbanas, onde as aves podem encontrar abrigo e alimento. Além disso, a população local deve ser mobilizada e motivada a conhecer as aves que fazem parte da paisagem.
Também a escolha da ave-símbolo da cidade pode sensibilizar para as questões ambientais e engajar a comunidade nas ações de preservação da natureza. A iniciativa privada também pode se utilizar desse produto turístico e criar novos produtos ou necessidades como artesanato, camisetas, souvenirs, guias impressos das aves da região com informações relevantes e de qualidade, empreendimentos especializados para aluguel ou venda de equipamentos fotográficos, binóculos, livros, quadros, pôsteres.
Neste estudo, o Parque das Nações Indígenas destacou-se como um local apropriado para realizar o roteiro de observação de aves, tendo em vista ter sido a área que apresentou o maior número de espécies registradas e frequência absoluta de ocorrência da arara-canindé. Além disso, o Parque localiza-se em área de fácil acesso e dispõe de infraestrutura para eventos culturais e esportivos. Assim, o roteiro de observação de aves pode ser conjugado com outros atrativos, como os museus, por exemplo, e até mesmo com roteiros de observação de aves de outras áreas, agregando valor turístico à cidade. O fato de cada área apresentar espécies exclusivas diferencia das demais observadas - Praça Lúdio Martins Coelho Filho e Lagoa Itatiaia - e as torna igualmente interessantes.